quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A Dose de Nostalgia

Todo ano, no mês de outubro, depois das primeiras chuvas que caem após meses de seca, eu começo a sentir, junto a umidade e o frescor temporário do tempo, nostalgia de épocas que já ocorreram há mais de uma década. Primeiros amores, trabalhos, faculdade, fixação de relacionamentos amistosos que duram até hoje, poder beber álcool legalmente, a transformação de um adolescente em um jovem adulto.

Esta parte da minha vida me marcou tanto, pareceu tão intensa, tão única. Não sei, ao certo, se sou privilegiado, ou apenas sensível demais, por que foi um turbilhão de emoções. Dos 14 aos 22, mais especificamente os 17, me fazem lembrar de tantas coisas, boas e ruins, mas mais boas, que me fizeram ser o que sou hoje.

Mas, antes mesmo disso tudo, também sinto saudades da infância que lembro antes dos 13, fase que se distancia mais e mais a cada dia. Lembro de coisas que eu fazia e que eram incríveis e outras que eram ridículas. Coisas consideradas incríveis como, por exemplo, pequenos filmes em Stop Motion que eu fazia com a câmera da minha mãe e com meu bonecos power rangers; livros escritos e ilustrados por mim, feitos a mão; e até estudar enciclopédias por conta própria sem ninguém - nem professores - ter pedido.

Mas coisas ridículas também, como brigar com amigos por motivos irrelevantes e mesquinhos, mentir para parecer alguém que eu não era ou até tomar uma dose de pinga apenas porquê era proibido. Esse fato da dose de pinga, inclusive, foi o que lembrei e me motivou a escrever esse texto, acredite se quiser.

Acredito que eu tinha lá meus 11 anos, havia acabado de fazer a refeição em um daqueles almoços de domingo de família reunida com visitas e, por algum motivo, tinha uma garrafa de pinga e eu quis tomar. Minha mãe disse que não, obviamente, e meu pai disse "deixa ele". Eu tomei uma dose inteira, naqueles copinhos próprios pra isso, e foi então que aconteceu:

Meu esôfago e, logo depois, o estomago, começaram a rejeitar aquele líquido etílico de forma que senti uma queimação absurda. Mas eu não falei nada, fingi que estava tudo bem, eu era o bonzão, só que poucos minutos depois, disfarçadamente, eu me afastei de todo mundo, procurei um lugar não visível no fundo da casa e coloquei tudo pra fora.

Metáfora como essa não é muito difícil de interpretar, né? Fazer coisas consideradas proibidas e, mais do que isso, tomar pra si coisas que além de não serem necessárias, coisas que também você nem suporta. Definitivamente, aquele não era o momento de eu beber álcool. Na verdade, hoje, eu acho que o ser humano nem deveria beber, mas considerando que a sociedade incorporou as bebidas alcoólicas no dia a dia como uma atividade de lazer, é válido.

Continuando a metáfora da dose, há também a dose de nostalgia que cada ano parece ser maior. Acho que no fundo eu só queria fazer essas ligações mesmo. Não tome algo que você sabe que não vai aguentar, ouça sua mãe, vá devagar nas coisas, sei lá... E também que eu sinto muita nostalgia quando começam as primeiras chuvas do segundo semestre.

Na muito consistente. Carpe Diem!