terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Dos frutos verdes aos podres, da luz à escuridão


Cheguei em uma noite onde havia sol no céu e uma chuva fraca, atípica para a época. Era a despedida da primavera, que logo deu lugar ao verão, do qual os dias pude aproveitar com toda luz. Eu nunca havia vivido dias tão longos. Era tão novo, diferente, lindo. E não era apenas luz daquela que se vê, mas luz que se sente. Pessoas encantadoras e visões mágicas.

Por todos os espaços pelos quais eu passeava também haviam flores e frutos verdes e maduros: amoras, uvas, maçãs, pêssegos, morangos, limões e tantos outros.

A empolgação com o verão fazia jus ao que havia de diferente por ali: praias, bosques, cidades, pessoas, comida, tudo lindo, todas interessantes. Não havia um momento se quer em que eu cogitasse lembrar-me de que o mundo era um lugar difícil de viver, eu não fui triste por um bom tempo. Mas sabemos que tudo passa, coisas boas e ruins.

Então o outono chegou e, ainda encantado, vi tudo à minha volta mudar de cor. Ficar amarelado, avermelhado, amarronzado. Havia beleza nisso. O outono, inclusive, sempre foi minha estação preferida, até então. Mas, apesar de todo encanto que essa estação trazia, os sentimentos começaram a mudar de cor também.

Com o passar dos meses, antes mesmo do inverno chegar, eu descobri na pele como é ter os dias longos tirados de você pouco a pouco, e a escuridão ir tomando espaço sorrateiramente, deixando-me mais vulnerável. Somado a isso, não era só a perda da luz e o aumento do frio me fazia sentir assim.

O brilho que antes eu via nas pessoas e nos locais deram lugar à uma umidade que adoece e um desgosto que chateia.

E os frutos apodreceram. Mesmo fixos em seus galhos, estavam podres, portanto, perecíveis. Já não serviam para nada. Não eram belos, nem comestíveis.

Mas uma coisa, pelo menos, era boa ali: quando aquela matéria orgânica caísse, iria se tornar adubo e a terra ia lhes agradecer.

Portanto, estou tentando fazer isso também, caindo – fora – agora. Diferente desses pedaços de vida já no fim de seu ciclo, porém, eu continuo vivo, e espero ser um bom adubo vivo para a terra pela qual irei viver.

Eu saio completamente diferente de que quando cheguei. Fui embora em uma manhã escura, mas já passava das seis, afinal é inverno. No entanto, mesmo o sol demorando sair, vou embora com muita luz.