sábado, 13 de fevereiro de 2021

Os trinta

Faz tempo que não venho aqui. Talvez eu não esteja precisando tanto, ou não tenha tido tempo. Independente disso, escrever ainda me torna capaz de coisas maiores e melhores como ser humano. Talvez isso seja mais importante do que nunca, a partir de agora, já que completo os 30 anos nesta semana. Então, decidi registrar por escrito sobre alguns dos meus percursos até chegar aqui, com um foco voltado para a vida profissional, que eu gosto de dizer que começou aos 11 anos.

Sei que foi com 11 que comecei, sem ao menos precisar financeiramente, a vender picolé na cidade de Querência, interior do Mato Grosso. Era tão divertido. Eu nunca me esqueço: eu ficava com 25% de tudo que eu vendia e os picolés eram de três tipos: os de fruta, que custavam 25 centavos; os com leite, que custavam 50 centavos; e o famoso skimó, um picolé de creme com uma casca quase inexistente de calda de chocolate, e que custava 1 real.

Meus melhores amigos achavam graça, e um pouco estranho. No decorrer da minha vida na escola, muitos sempre me achavam estranho. Eu me senti deixado de lado por várias vezes e quando vinham até mim, sempre senti que era por interesse, já que eu era umas das únicas pessoas na cidade que tinha piscina em casa e por vários outros motivos que me colocavam como alguém privilegiado como, por exemplo, ter uma câmera filmadora, um gameboy, computador em casa etc.

Mas não quero que isso tenha grande destaque, eu não me importo mais com isso há muito tempo. Ainda em Querência, eu cheguei a fazer três edições de um jornal na escola, foi o primeiro contato pessoal com o mundo "jornalístico", do qual faço parte até hoje, 20 anos depois. Além do jornalzinho, também cheguei a ser "espião de supermercado", pegando preços de outros mercados e levando para o gerente do mercado mais novo da cidade.

Já com 14, morando em Vila Rica, outra cidade do Interior do MT, lembro de ter trabalhado em uma locadora de vídeo. Em dois anos nessa cidade, acho que foi apenas isso que fiz além de estudar e também fazer o jornalzinho da escola nessa época. Este, porém, durou mais tempo, chegou a ter, pelo menos, 10 edições.

Novamente em outra cidade do Mato Grosso, em Barra do Garças, entre a reta final do ensino médio e o fim da faculdade - 15 aos 22 - eu trabalhei com muitas coisas: servente de pedreiro, garçom, auxiliar de editor de vídeos, ajudante em uma gráfica especializada em plotter, vendedor de cursos profissionalizante, produtor de roteiros para rádio e o emprego mais importante entre esses, que foi o de vendedor e projetista de móveis planejados.

Estes 7 anos formaram meu perfil profissional de uma forma que refletem até hoje em quem eu sou. Foram aprendizados que certamente levarei para toda a vida. Formas de tratar as pessoas, maneiras de se comportar em certos tipos de ambientes, boa comunicação, tantas coisas que é impossível listar tudo aqui. Apesar disso, ao me formar e me mudar para Goiânia, capital de Goiás, eu descobri que, mesmo formado em jornalismo, eu ainda não sabia nada da minha profissão.

E lá vamos nós, com 22 anos e recém formado. Enfrentei muitos outros trabalhos e desafios na minha área, e mais crescimento. Desta vez, porém, o crescimento foi focado na minha atuação profissional em comunicação escrita, e outras atividades que um jornalista, repórter e assessor precisa saber. Mesmo assim, tudo que eu aprendi dos 15 aos 22, foi extremamente útil aqui.

Trabalhei como assessor de comunicação em uma empresa local de cosméticos e, apesar dos poucos meses, me agregou muito. Depois, em uma experiência mais curta, eu tentei me arriscar no mundo dos web designers, depois de fazer um curso na área, mas não, isso não é pra mim mesmo. De toda forma, aprendi a fazer sites e isso também me ajudou no futuro. Guarde isso.

Após passar umas semanas morrendo de medo de o seguro desemprego acabar (sim, nessa época ainda conseguíamos carteira assinada com facilidade), consegui um emprego em umas das empresas que trabalhei por mais tempo na vida. Lá, foram cerca de 5 anos como analista de comunicação, trabalhando com grandes empresas, com redes sociais, e aprendendo tudo que eu precisava aprender. Evoluí muito, e com isso, fui conseguindo me articular por outros espaços da profissão.

Nesses 8 anos, graças a este trabalho como analista, eu também consegui promover meu próprio site, onde produzi conteúdo por 3 anos, consegui ir de repórter a editor em um dos jornais políticos mais consagrados de Goiânia, trabalhei por uns meses em um jornal onde hoje sou editor chefe, também consegui clientes próprios para trabalhar como assessor de imprensa e até um cargo comissionado no Governo do Estado, na Secretaria de Segurança Pública. Tudo isso, até aqui, nesses meus 30 anos, me fazem me sentir preparado para os próximos 30, se vierem.

Eu cheguei até aqui e, de vendedor de picolé ao cargo de editor em um jornal online, não tive uma só experiência que não tenha me agregado em algo. Vale lembrar que em alguns desses trabalhos eu fui humilhado, maltratado, desprezado e, em outros, fui reconhecido, ensinado e valorizado. Mas independente disso, as coisas ruins ou boas serviram para muito. As ruins a saber me posicionar, me defender e buscar Justiça, e as boas a me ajudarem a chegar sempre em algum lugar mais longe.

São quase duas décadas de trabalho sempre conseguindo uma oportunidade melhor que a anterior. E eu sempre me aconselho a não me sentir 100% confortável com isso, porque eu preciso também estar preparado para regredir, caso seja necessário algum dia. E eu não tenho medo disso, nem que eu precise voltar a vender picolé novamente, tenho orgulho de todas as funções que exerci.

Por fim, eu quero, ao menos, sem modéstia, registrar que eu nunca, jamais, precisei passar por cima de alguém para chegar onde estou. Não que eu esteja em uma posição de topo, por que isso para quem não nasceu em berço de ouro e utopia. Mas estou em um local onde não foi fácil chegar, e o que quero dizer é que não precisei ferir ninguém física ou psicologicamente para isso.

Estou grato por chegar aos 30. Estou grato por chegar aos 30 sempre fazendo o que gosto e sem ter atrasado uma conta até hoje (risos).