sábado, 19 de dezembro de 2020

Texto para o pessoal dos vinte e poucos anos

Eu tô fazendo três décadas de vida, e aí me veio a ânsia de escrever as coisas que passam pela minha cabeça nessa enxurrada de emoções que me tomam, principalmente pelo que vivi nestes últimos dez anos de "vida adulta". Mais especificamente ainda após eu ter me formado, aos meus vinte e poucos. São oito, para falar corretamente, os anos em que vivi fora da casa dos meus pais, pagando minhas contas, trabalhando na minha área, fazendo as coisas de gente grande.

São oito anos vividos em que posso destacar uma das coisas que me orgulham: nenhum boleto atrasado ou que deixei de pagar. Mas eu quero falar mais do que isso, quero falar com o pessoal dos vinte e poucos sobre como cheguei vivo até aqui, vivendo bem sem realizar os sonhos que achei que teria realizado a essa altura, sem me tornar milionário aos trinta como tá na moda, né? Quero falar com a pessoa que fui e está dentro de alguns por aí afora.

Eu sei, tenho consciência de que as coisas são muito mais complexas do que fala um homem branco, cisgênero e com várias oportunidades, no caso eu. Mas eu sei que não farei mal a ninguém com este texto, e se fizer bem a um indivíduo ou indivídua, já ficarei feliz. 

Preciso começar dizendo algo importante: não se afobe! Veja bem, eu nunca na minha vida passei a noite em claro, nunca exigi mais do que meu corpo podia aguentar, em troca de notas boas na faculdade. Eu RESPEITEI o meu limite, fiz as coisas que estavam ao meu alcance, e conquistei meu diploma da forma que eu consegui conquistá-lo, sem histórico lotada de 10.

Meses depois (e nos anos seguintes) de me formar, um surpresa: ninguém do mundo corporativo ou privado pediu meu diploma, apenas as dezenas de processos seletivos aos quais me prestei, mas sempre tinha alguém mais experiente na frente. O que algumas empresas queriam, de início, era alguém que aceitasse receber pouco e com vontade de aprender.

Por mais meses seguintes precisei ser forte, sobrevivendo com o que eu tinha guardado da época da faculdade - porque eu trabalhava e estudava - e com o salário pequeno que me ofereciam. Eu fiz meu nome nesses lugares, provando minha capacidade, e após provar isso é que eu pedia meu aumento. A empresa que não aceitava, me desculpe, mas eu me demitia sim sem ter nada em vista. Isso por dois motivos:

1 - Eu sabia da minha competência;

2 - Eu sabia que conseguiria algo melhor.

E foi o que aconteceu, encontrei empresas que me valorizavam, fui grato a elas da forma que é a vida real: dando resultado a eles. Fora isso, o mérito é todo meu, não tive parentes me qualificando, não tive ajuda financeira dos meus pais, não usei ninguém, foi exclusivamente a força do meu trabalho.

Outra coisa no mundo da vida adulta é o tanto de gente que você vai encontrar que diz que fulano e cicrano vai tentar passar a perna em você, passar você pra trás, te usar, blábláblá. Mas sabe a verdade? Eu nunca vi ninguém fazendo isso comigo, sabe por quê? Por que eu estava focado em superar o meu verdadeiro obstáculo, eu mesmo com minhas limitações.

Amigue, aprende algo: ninguém te dá mais trabalho do que você mesme. Esquece colega de trabalho com cara de bunda, que te queima, que quer mostrar mais resultado, ou não seja paranoico a ponto de achar que estão todos contra você. Ninguém é vilão ou mocinho, todo mundo só quer crescer na vida, se usam meios não éticos, problema é deles, a gente faz o nosso da forma correta. Eu fiz.

Vale lembrar também que educação financeira é o básico. Graças a Deusa eu não cultivei nenhum vício que me tirasse dinheiro. Se você tá no mundo do cigarro, álcool, drogas ilícitas, ostentação, sinto muito, mas não gastar grana com essas coisas é uma salvação.

Apesar de tudo eu não tenho um carro, não tenho um imóvel, não tenho nada de material que valha muito, mas a maioria das pessoas que conquistou isso com o fruto do próprio trabalho, de verdade, e são raras, vivem reclamando das consequências que coisas materiais caras trazem. Eu quero ainda, lógico, mas não vou me enfiar em dívidas pra algo que não me faz falta.

Tem algo engraçado também, muita gente não sabe mas depois dos 30 vem 31, e não 40. E algo que muitos esquecem: os trintões ainda são jovens e tem força para muita coisa. Digo isso, pois eu já tive muito preconceito, achando que chegar aos 30 era o fim da juventude. Eu me sinto tão novo ainda - vigor eu nunca tive, pra falar a verdade - mas me sinto pleno.

Então, pessoa dos vinte e poucos, não perca as esperanças. Eu sei que tem os concurseiros, os da vida acadêmica, os que tem sérios problemas físicos e mentais, problemas na família, problemas com a sociedade, cada um é um. Mas pra mim nada foi fácil sabe? Eu tive oportunidades incríveis, mas só a oportunidade não enche barriga e mais, só oportunidade boa não traz paz, realização ou conforto. Afinal, hoje em dia, na maioria dos empregos, você passa mais tempo no trabalho do que em casa.

Em um lugar que você passa mais tempo do que em casa, esse lugar não pode ser menos que agradável. E eu nunca abri mão disso. Bom, eu dava chance às empresas e tentava. Hoje, nestes oito depois, já pego cargos de chefia, acredito que algo eu tenha feito certo, mesmo me demitindo quando eu via que não estava bom pra mim.

Basicamente é isso. Existem muitos outros detalhes, mas resumidamente o que eu quis dizer esta aí. Deite sua cabeça no travesseiro a noite e ordene que que tudo fique bem, se recuse a ficar remoendo coisas. Durma corretamente, beba muita água e saiba que você merece o melhor da vida, que é tão curta.

Não seja escravo dos outros, nem de si mesmo. Se permite arriscar, mas lute, trabalhe muito, por você!