quinta-feira, 3 de junho de 2021

As virtudes e belezas do flop

Faz um tempo que tenho pensado nisso com mais frequência: acredito que a popularidade das pessoas é algo já determinado em seu destino, talvez. Mas, de acordo com fontes - da minha cabeça - a impressão que tenho é de que a maioria das pessoas precisam fomentar muito por esse "renome".

Fica claro, especificamente falando da internet, que há um desespero por atenção crescendo e isso me inclui também, ainda mais durante a pandemia. Mas eu particularmente não tenho paciência de fomentar a popularidade com frequência. É a tal de produção de "conteúdo". Conteúdo bem entre aspas por que isso varia de coisas bem úteis como ensinamentos, receitas, dicas, informação de verdade e vai até as famosas dancinhas e das fotos de corpos seminus.

Eu mesmo já fiz um pouquinho de cada dessas coisas, e é visível que o engajamento aumenta sempre que as faço. Dentro, claro, da minha minúscula bolha de interação. Mesmo assim, eu sou considerado - pela internet e por mim mesmo sem problemas - flopado. Poucos likes, poucos comentários, pouca procura, poucos compartilhamentos. 

E o que eu quero dizer com isso é que, apesar de isso me fazer sentir um pouco esquisito, já que estou me expondo em troca de "pouco" retorno. A sensação, na maioria das vezes, é de alívio, pois são milhões e milhões na internet, fazendo conteúdos viralizarem a todo momento e isso traz sérias consequências também:

- Uma das consequências é a moda do cancelamento. Se você der um passo fora do que a maioria ali da sua bolha acredita - as vezes realmente é algo grave, mas na maioria não - a pessoa é criticada e apedrejada virtualmente.

- Outra consequência, que também é ruim é o vício pelo engajamento. A pessoa faz algo que dá certo, viraliza, e aí aquilo a faz sentir importante, provavelmente o ego sobe um pouco e o desespero por repetir as façanhas cresce. E o foco se torna aquele, fazer de tudo para conseguir bombar nas redes sociais novamente.

Essas consequências, imagino eu, pois nunca viralizei, graças a Deus, atingem com tudo. Imagina você, do alto de uma pandemia, tendo que trabalhar para pagar contas (caso não seja um influenciador, que já trabalha na própria internet), se desesperar pela atenção de pessoas que você nem conhece, e ainda ser criticado por elas, que nem te conhecem?

Ou mesmo as pessoas, donas de um visual digno de padrão imposto pela sociedade que só tem atenção pelo seu físico. Postagens com milhares e curtidas e compartilhamentos de suas fotos de roupa de banho, roupa íntima ou mesmo nus, mas sem engajamento com as palavras que você publica, ou mesmo sem alguém real pra poder te dar apoio.

Mas isso vai mais além do que fotos sensuais, envolve pessoas que postam coisas fofas, engraçadas, tristes, enfim, tudo que envolva algum público, e é aquilo que elas têm.

E agora vem o motivo pelo qual nomeei este texto de virtudes e belezas do flop. Flopar é termo usado na linguagem da internet, principalmente nas redes sociais, quando se quer dizer que a pessoa não alcançou grandes números de comentários, curtidas ou compartilhamentos.

E depois de tudo o que eu disse sobre consequências de NÃO flopar. Não tem como acreditar se ser flop é ruim. Ser flopado é a garantia de que você não deve nada a ninguém. Você não precisa se preocupar em criar conteúdo para pessoas que não tiram a cara do celular ou do computador e que vão te pagar com elogios efêmeros e curtidas líquidas.

De toda forma, não quero parecer arrogante por ser flop - mesmo que eu não deva a ninguém se que quisesse me sentir assim. A internet e essas pessoas populares, em grande parte, são extremamente necessárias, principalmente quando se trata de engajar movimentos políticos, sustentáveis, ou que envolvem saúde e direitos.

Mas não é o que vemos na maioria das redes sociais. O engajamento fútil, apesar de engraçado e prazeroso (to falando de vocês memes e biscoiteres) é arriscado para a saúde mental. Fuja disso.

No mais, aproveite as virtudes e belezas do flop. Dê atenção aos poucos on-line que que dão atenção de volta, e foque na vida real, por que ela ainda existe, mesmo com um vírus mortal a solta.

Carpe Diem