terça-feira, 16 de março de 2021

Uma luz no fim do túnel

Março quase sempre se apresenta como um divisor de águas na minha vida. A cada ano, este terceiro mês me trás desafios querendo eu ou não. Não é regra, mas pelos ciclos em que me lembro, é nesta época que a maioria das coisas costumam acontecer com mais intensidade.

Este ano não foi diferente. Eu recebi alguns baldes de água fria nos últimos dias e, aparentemente, terei que recalcular a rota do meu caminho mais uma vez. Mas era neste ponto mesmo que eu queria chegar. Meu caminho.

O exercício diário continua, pois parece uma lição difícil de aprender: a jornada é mais importante que o destino. É o que eu acredito, mas por vezes parece que não dá pra entender, a fundo, o que isso significa. Bom, posso tentar me explicar.

Pelo menos pra mim, as maiores e mais satisfatórias lembranças são de momentos de passagem e não de chegada ou partida. Não vou ser hipócrita a ponto de dizer que destinos foram desprezados, pois inúmeras conquistas foram, sim, mais prazerosas do que o os caminhos percorridos pra alcançá-las, mas não a maioria.

A grande maioria, afinal, de momentos de prazer real, estiveram cravados nos percursos que eu tomei. Inclusive, às vezes, é até difícil identificar o que foi jornada e o que foi destino. De toda forma, agora isso não importa, outra coisa se põe à minha frente.

Eu preciso absorver, o mais rápido possível, todas essas informações jogadas em mim como bombas e enfrentá-las para que não se tornem obstáculos no meu caminho. Obstáculos não por me impedirem de chegar a algum lugar, mas sim no sentido de me impedir de ver a paisagem a minha volta, já que é de jornada que estamos falando.

Ainda é doloroso escrever pensando a fundo em tudo o que está acontecendo. Mas alguém me disse, na última noite, coisas que eu precisava ouvir. Foi como um eco da minha juventude me dando um sopro de vigor, vindo diretamente do passado e me fazendo receber todo o prazer, carinho e amor que talvez eu merecesse naquele momento. E que momento.

Assim como satisfações pelo caminho, o momento da última noite me mostrou que tudo pode ficar bem novamente, se eu puder curtir a jornada, que nada mais é do que o hoje, o agora. Eu agradeço por isso. Acho que jamais esquecerei aqueles olhos, aquele toque. Me arrebataram, para não dizer seduziram, de alguma forma valiosa.

Ainda se não bastasse, por mais que se tratem de momentos efêmeros, ainda tomei a decisão de assistir a "Nomadland" que foca na vida enquanto jornada e não destino. É tão poético quanto realista, e a obra me tocou fundo, principalmente pelo momento em que estou passando.

É isso: momento, caminho, jornada, passagens... Eu estou agora num percurso, um nada fácil percurso. E antes que eu encerre o texto sem citar o por quê de ter escolhido, como título, "Uma luz no fim do túnel", era só pra metaforizar algo com caminho. Aliás, há sempre uma luz no fim do túnel, só que o meu túnel, pelo menos, nunca está escuro.

Mesmo que estivesse, eu amo túneis. E, o final, eles continuam sendo caminhos e me levando não onde eu preciso ir, mas POR onde eu preciso pisar. Acho que eu me fiz compreender o suficiente por hoje.

Carpe Diem

------------------------------------------------------

Como hei de comparar-te a um dia de verão?
És mais amável e e mais ameno:
Os ventos fortes sopram os doces botões de maio,
E o verão passa depressa demais;
Por vezes, o sol lança seus cálidos raios,
Ou esconde o rosto dourado sob a névoa;
E tudo que é belo um dia acaba,
Seja pelo acaso ou obra da natureza;
Mas teu eterno verão não extingue,
Nem perde o frescor e a beleza que só tu possuis;
Nem a morte virá arrastar-te sob a sombra,
Quando estes versos te elevarem a eternidade:
Enquanto a humanidade respirar e os olhos enxergarem,
Este soneto viverá, e tu viverás nele.
- Soneto 18 recitado em Nomandland