segunda-feira, 28 de abril de 2025

Ensaio

Eu estou cheio de medo, mas posso dizer que estou neutro com tendência para positivo e otimista. Embora seja cedo, não acho que haja tempo certo.

Mas tem um porém, eu não tenho nada material para oferecer, e eu nem sei mais se sei quem sou. Além disso, por mais que eu até saiba um pouco o que quero, também não sei se estou preparado para isso.

Um pouco do que eu quero: ser amado, priorizado, ajudado, cuidado, amar, priorizar, ajudar, cuidar. Eu quero experiência, tempo de qualidade e parceria.

A intensidade, força e rapidez de como tudo veio me fez ficar um pouco desconfiado. Talvez na minha cabeça ressoe "o que vem rápido, vai rápido" e eu cansei por inteiro do que é demasiado efêmero.

Eu não quero mais líquido e frágil, que escorre pelas mãos, como quase tudo é hoje em dia, como diz Bauman.

Então, eu preciso me preservar mesmo querendo muito embarcar, por que eu sei que o risco e a aposta continuam sendo grandes e a frustração se espreita a qualquer momento. Também por que a vida acontece quer queira quer não.

E os meus planejamentos, mesmo sendo necessários, não fazem com que os planos sejam úteis.

Como eu disse, estou cheio de medo, mas como sempre, eu vou mesmo assim.

sábado, 12 de abril de 2025

Tempo foi/é/será minha religião

"É engraçado por que, para ser honesta, estive triste a semana toda, eu sinto que minhas expectativas estavam altas demais ou que quanto mais velha ficamos, mais temos que justificar a vida e suas escolhas. E quanto eu estou com vocês, são tão transparentes quais foram minhas escolhas, meus erros.

Eu não tenho um sistema de fé e, bem, digo, eu tive muito... O trabalho foi minha religião por toda vida, mas eu definitivamente perdi minh fé nele e, então, eu tentei o amor e foi apenas uma religião dolorosa que fez tudo ainda pior. E aí, mesmo para mim, ser uma mãe também não me salvou.

Mas eu tive essa epifania de que eu não preciso de religião ou deus para dar significado à mnha vida, por que o tempo faz isso.

Nós começamos essa vida juntas, digo, nós passamos por coisas separadas, mais ainda assim juntas. E eu olho para vocês, e sinto que isso é cheio de significado. E eu não posso explicar, mas mesmo quando estamos na piscina falando qualquer coisa e isso ainda parece profundo.

Eu sou grata que você tem um lindo rosto. Eu sou grata que você tem uma vida linda. E eu... eu apenas estou grata de estar nesta mesa."

The White Lotus S03 EP08 | Laurie’s Monologue at Dinner with Kate and Jacky

Assim como para muitas pessoas, o monólogo da Laurie no último episódio de The White Lotus se encaixou para mim também. Em mais um dos meus momentos de tristeza - que a cada ano tenho aprendido a aceitar como uma emoção visitante, assim como todas - por mais esta fase de mudanças, saudades, dúvidas, preocupações e angústias, sinto que posso aprender mais e mais a cada dia.

Isso tudo só serve, no entanto, para que eu não seja ignorante quanto às minhas ações em geral. Vou continuar falhando tanto quanto acertando, mas eu preciso dessa consciência para fazer isso sem machucar ninguém, nem a mim mesmo, de forma a causar dor e sofrimento constantes.

Considerando isso, esse monólogo digno de premiação e as lições com as quais eu tenho tido contado recentemente, só queria pontuar, hoje, o que acho que preciso fazer para que eu tenha uma qualidade de vida - psíquica - mais saudável possível. Isso inclui:

  • Conexão livre de possessividade
  • Entender o que é amar sem possuir
  • Aprender a soltar imediatamente
  • Não se culpar por erros cometidos
  • Não mudar para agradar a ninguém
  • Praticar o desapego em todas as formas
  • Deixar de controlar e seguir o fluxo
  • Viver o agora sendo grato e presente
  • Dar valor para as pequenas coisas
  • Ser otimista ao que esta ao meu alcance
  • Mudar em mim o que quero mudar no mundo
  • Planejar, mas saber abrir mão dos planos
  • Refletir sobre o que me incomoda no outro
Dentro disso, para que funcione, eu preciso abrir mão de achar que eu conseguirei ser isso e assim de forma constante. Acredito que seja impossível, até por que seguir este roteiro de forma irrestrita já seria uma forma de controle, o que se tornaria um paradoxo. Creio que se trata mais de uma prática diária que pode ajudar com que eu seja um pouquinho melhor a cada dia.

Por fim, indo um pouco contra essas filosofias bregas, cafonas, hypadas que todo mundo critica, mas que considero muito válidas, preciso contestar apenas o fato de que eu não posso agir de tal forma, por que isso me trará benefícios ou vantagens. É agir de tal forma por que SIM.

Por exemplo, eu definitivamente gosto de ter o controle das coisas, mas eu não posso abrir mão desse controle só por que isso vai fazer com que as coisas fluam, eu tenho que abrir sem pensar nos ganhos. Um exemplo mais palpável ainda é o de estar com alguém e, "soltar" apenas para que a pessoa fique. Eu preciso soltar simplesmente por que ela é um ser livre.

De novo: não posso agir seguindo essa filosofia pensando na minha conveniência, eu preciso ser melhor do que isso e fazer pensando em um bem como o todo e, assim, acredito que funcionará melhor. Ponto.

terça-feira, 1 de abril de 2025

A amendoeira-da-praia (postagem 600)

Era um dia qualquer de 2022 e eu estava rolando o feed do Instagram, como bilhões de pessoas fazem diariamente, quando um vídeo me chamou atenção: com uma música agradável, a filmagem mostrava uma árvore em uma noite qualquer em uma praia de João Pessoa, capital da Paraíba. Aquela árvore (uma amendoeira-da-praia) estava entre a areia e a calçada e se mexia enquanto era tocada pelo vento, em um ambiente praticamente deserto e a lua refletindo no mar. Aquilo não parecia perfeito, aquilo era PERFEITO.

Salvei aquele vídeo e imaginava como seria morar ali. Anos depois, não mais que três, cá estou morando em João Pessoa, desfrutando do que era apenas um sonho. Um sonho simples, pequeno, admito, mas que pode não ser de fácil acesso para muita gente. Não se trata, porém, de meritocracia, de presente de Deus, de "eu mereci", avalio apenas como: de alguma forma fui e fiz. 

Este texto, porém, é mais uma despedida do que o sonho realizado por si, já que eu estou indo embora daqui hoje. Sinto que meu tempo na cidade já deu. Foi o suficiente. Mas só recentemente, caminhando pela praia a noite, aqui perto de casa, sentindo o vento, vendo a lua refletida no oceano e, claro, vendo uma amendoeira-da-praia (também chamada de sete-copas e outras dezenas de nomes), é que me dei conta desse pequeno sonho foi realizado, e muito bem realizado.

Lembrei do vídeo que salvei por tanto tempo, que eu assistia frequentemente até que caiu no esquecimento. No fim, eu tive o privilégio de vir morar a apenas alguns metros de uma praia que poderia ser muito bem aquela praia do vídeo. E não só é uma praia, como é uma praia bonita, pouco frequentada, segura, agradável e foi minha por longos rápidos quatro meses.

Por vezes, eu vejo esses pequenos sonhos se realizarem e entendo o por que eu sinto que minha vida é digna de ser vivida. Talvez tudo isso seja uma mistura de sorte, com muito trabalho e disciplina, de estar satisfeito com pequenas coisas, de fazer o que quero, de arriscar, de apostar, de não me importar, também de ser egoísta, metódico, consistente e até meio estúpido. 

No entanto, minha vida está bem longe de como eu gostaria que fosse tendo 34 anos, como era na mente de um jovem que imaginava posses materiais inalcançáveis, mas que nunca imaginou quanta imaterialidade caberia na cabeça e no coração. Ainda assim, sigo no meio desse caos ordenado, dessa felicidade melancólica, no meio disso, sem ser pior ou melhor que nada nem ninguém, só grato por poder apreciar uma amendoeira-da-praia em uma noite qualquer em uma praia na Paraíba.


Acima, a foto que eu tirei no dia em que me dei conta de que eu estava em pessoa no cenário que tanto desejei. Era um dia de lua, mas ela já não estava refletida na água nesse momento. Vida que segue!

CARPE DIEM