terça-feira, 15 de novembro de 2016

O som do motor

Até hoje um dos sons que me deixa mais nostálgico é, sem dúvida alguma, o som do motor de uma camionete. Eu não gostava, de verdade, quando ouvia esse barulho, que vinha quase sempre ao anoitecer. Aquilo significava uma coisa: meu pai estava chegando. Isso era tipo "acabou a mordomia". Eu não conseguia ficar a vontade com meu pai em casa.

Voltando às memórias que possuo, dos lugares onde morei, eu vivi sempre a mesma rotina, era estudar cedo, chegar em casa, almoçar a melhor comida, que é a da minha mãe, dormir um sono bem gostoso, acordar e ficar no computador, ou estudar, ou ir pra rua, ou piscina, enfim, cada época da minha vida era uma coisa diferente, mas sempre a tarde, que eram maravilhosas.

Quando o sol ia se pondo, a hora da chegada do meu pai ia se aproximando, e sempre anunciada com o som do motor de uma camionete. O fato de ser desanimador era por que meu pai implicava com tudo, tudo mesmo. Se não tinha tomado banho, mandava ir, se demorava demais, reclamava, na hora da janta, até o jeito de por a comida no prato ou de pegar nos talheres era pauta pra discussão.

Ah, e meus os trejeitos, minha forma carinhosa de tratar minha mãe e tantas outras coisas. Era por isso que eu detestava aquele som. São poucas as lembranças que tenho de momentos felizes com meu pai, e eu as tenho com muito amor, pois foram momentos incríveis, meu pai era e é incrível. Só que não dá pra negar que o fato de ele sempre me tratar diferente (e ele dizia que com filho homem devia ser assim), marcou na minha vida.

O engraçado é que hoje, antes de sentir dentro de mim a vontade de escrever sobre isso, foi por que ouvi esse som. Ouvi esse som entrando pela janela do meu quarto no meu apartamento, no 9º andar, e isso doeu um pouco. Eu estou ótimo, obrigado. Mas se eu pudesse concretizar o que eu sinto neste momento, seria algo imenso, algo que eu me esconderia dentro e nunca mais sairia, por que é algo que eu nunca mais terei novamente, e isso dói.

Bom, é aquela coisa, sabemos que dias melhores virão, e sempre vem. Mas as coisas boas que passaram, devem ser aproveitadas com tudo, por nunca mais vão ser revividas. Eu sempre aproveitei muito, mas pra minha infância, eu voltaria se pudesse, sem pensar duas vezes. Só que, que se acontecesse, eu mudaria uma coisa: não ficaria tão incomodado com o som do motor.

Carpe Diem

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