domingo, 1 de abril de 2018

Jogo da Vida

Quando eu tinha entre dez e doze anos, pleno século XXI, eu e minha irmã ganhamos um computador. Aquele equipamento formado por blocos cor "branco encardido" que ocupavam um belo espaço no escritório da casa, rodando o legítimo (ou não) sistema operacional windows 95. Nossa, ficamos extasiados, não esqueço até hoje: havia escurecido há pouco e meu apareceu com aquela caixa que ampliaria nosso lazer e conhecimento. Mas só o computador não era suficiente, tinha que vir com um CD com praticamente todos os jogos do Super Nintendo. Felicidade sem fim.

Essa história e esses jogos por si só poderiam render diversos outros contos nostálgicos que marcaram minha infância, mas acontece que lembrei de algo específico hoje, sem razão aparente. O Jogo da Vida. Esse game que eu nem sei mesmo se chama assim, por que o jogo era todo em japonês, se baseava em caracterizar e nomear quatro bonequinhos estilo lego e colocá-los em um tabuleiro. Visivelmente eles começavam como crianças e com o passar da brincadeira eles iam crescendo e passando por provações.

Episódios escolares, fase da pré-adolescência, amizades, inimizades, relacionamentos amorosos, faculdade, trabalho, casamento, filhos, crises, momentos de felicidade e morte. Tudo acontecia naquele jogo. O mais incrível é que, mesmo sendo em outra língua totalmente diferente, eu e minha irmã conseguimos concluir o jogo, não uma, mas diversas vezes, sempre com fins diferentes. É uma boa lembrança, que me fez pensar nesse jogo durante a minha própria vida, mas que depois de crescer, o CD de jogos estragar ou se perder, eu nunca mais achei esse jogo em lugar nenhum.

Mas aconteceu, há poucas semanas atrás eu achei esse bendito game e fui jogá-lo. Só que o fim da história não é muito interessante, apesar de curioso. Eu não consegui nem passar da fase da escola, eu simplesmente não entendia o que estava acontecendo. As crianças só choravam, e aconteciam situações nada compreensíveis, e o tédio tomava conta daquele momento que era pra ser de pura diversão.

Deixei de lado. Fui cuidar da minha vida. Mas isso ficou na minha cabeça, até o momento em que decidi escrever e refletir sobre o pro quê de aquele jogo não me atrair mais. Seria pelo fato da minha imaginação não estar mais fértil a ponto de que eu precisasse ler aquelas legendas em japonês? Ou só que eu não tenho mais paciência para jogos eletrônicos ou de tabuleiro (salvo o PS4)? É difícil saber, apesar de não ser uma dúvida que me faça entrar em crise existencial.

Além das questões, achei interessante compartilhar como, às vezes, nem a criança interior se mostra presente. Ser ignorante, inocente, generoso, sincero e tantas outras virtudes vão se embora com o passar dos anos. E, com isso, o Jogo da Vida se torna cada vez mais difícil de jogar, mas não menos incrível, apesar.


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