quarta-feira, 29 de abril de 2015

Estranhamento

Fiquei pensando de modo anormal naqueles sete criminosos envolvidos em um sequestro que durou 32 dias aqui em Goiás. Até o momento em que cheguei na secretária de segurança pública da capital não havia me dado conta de como tudo aconteceria, não pensei no detalhes que presenciaria. Enquanto chegava ao meu destino, a fotógrafa e o motorista se mantiveram em silêncio, para minha sorte, por que isso é raro.

Enquanto esperava na sala de apresentação dos suspeitos e esperava, também, pelos delegados do caso, reparei em como os repórteres - de TV, sites, rádio e impresso - se conheciam bem e agiam, de certo modo, como companheiros do mesmo time. Nada contra, neste caso. Porém o que mais me tocou, por mais imbecil que seja, foram as risadas, as piadas, as conversas fúteis meio ao caos que se instalava na vida dos sete indivíduos apresentados pela polícia e pela presença dos mesmos.

Não quero, jamais, fazer o papel de pseudo defensor dos direitos humanos. Não me importa o que será feito com os suspeitos, se condenados ou não, nem me importa se estavam envolvidos diretamente ou foram vítimas de um sistema falho. Mas naquele momento, em que aqueles profissionais - jornalistas, policiais e assessores - se posicionavam, já cansados por aquela rotina que deve ser frequente, me senti incluído em um novo patamar de realidade.

Os suspeitos, sendo acusados pelo sequestro de um jovem, de cabeças baixas e com certeza pensando em como estariam fodidos dali pra frente. As risadas das autoridades presentes e o orgulho em terem capturado a maioria do envolvidos no crime. A ansiedade e satisfação da mídia em poder noticiar, informar o que tantas pessoas buscariam na TV, internet e jornais horas depois. Uma realidade que, provavelmente, me será constante.

Não estou assustado mais. Confesso que senti um medo, aquele que gosto, que tem gosto de coisa nova, de aventura. Eu espero mais dias como esse, que me proporcionem um sentimento diferente, um conhecimento maior sobre a humanidade. Mesmo que ela se apresente falha ou incerta, são as coisas que existem hoje, e pelas quais vivemos, querendo ou não. É como um trabalho social, uma responsabilidade social. Aquela que vai além das reclamações diárias e sem resolução. É uma ação que gera, de certo modo, uma reação. E talvez aí, nesse ponto, eu possa estar fazendo alguma diferença.

É basicamente isso, mudar o mundo a minha volta, aos poucos e primeiro, com as ferramentas que me foram dadas.

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