quarta-feira, 13 de maio de 2015

Um dia infinito

Era hora de voltar ao trabalho, o horário de almoço estava no fim e eu estava com a alma aconchegada, pois era uma época de bons tempos. Tomava o rumo do serviço e, durante o percurso, lembrava das noites felizes que eu estava tendo, dos dias de trabalho que me rendiam um bom dinheiro, uma boa relação social e outros frutos. Enquanto passava por algumas ruas e outras avenidas me vinha na cabeça o que ainda estaria por vir. Aquilo era diferente. Tantos anos sem fazer planos com alguém e, de repente, tão rápido, várias possibilidades, eu estava me apaixonando.

Quase em frente ao meu local de trabalho, e eu já estava pensando por que ele não havia me respondido a mensagem que enviei aquela manhã. Devia estar ocupado, ele era um profissional dedicado e muito reconhecido pelos seus clientes. Então me despreocupei, até o momento em que eu dirigia lentamente por um cruzamento e via a cena de um acidente que acabara de acontecer. No chão, um jovem loiro, forte e vestido de preto. O coração já saindo pela boca, pois não foi nem suspeita, foi constatação: era ele, lá!

Louco para estacionar, demorei alguns minutos, não poderia simplesmente deixar o carro no meio da rua e correr. Talvez tenha sido melhor não ter feito isso, mesmo. As pessoas que presenciaram a cena disseram, depois, que foi muito grave. Quando estacionei, a ambulância já o havia levado. Saí mais louco ainda atrás de informação, acabei sendo a pessoa que informou os outros, por que eu havia sido o único conhecido que praticamente presenciou o acidente.

Bom, aquele dia não acabou. Precisei visitar uma obra, não consegui medir uma parede sequer. Precisei ir ao pronto socorro. Lá, todos os amigos já esperavam junto da família, desesperada. A chefe e os colegas de trabalho dele, estavam tão apreensivos e choravam muito, era o mais adorado entre os funcionários. Mesmo com todo aquele amor reunido, o coração do Júnior não resistiu muitas horas, por mais que estivesse batendo incessavelmente, de acordo com os médicos. Batendo por mim, talvez, e pelos outros todos. A morte cerebral foi eminente, não houve chance.

Era fim de tarde, mas que o dia não acabava, não acabava... nunca. foi um dia infinito. Sem apetite, sem sono, sem vida. Às vezes o destino prega peças, faz você passar por experiências estranhas. Nem vou me dar ao trabalho de me perguntar qual foi o sentido disso tudo, muito menos de dizer como o Júnior era uma pessoa maravilhosa, apesar de tudo. Eu só sei que eu encontrei amor, definitivamente, em um lugar sem esperanças e isso fez com que o dia infinito não fosse nada diante do que ele pôde me proporcionar.

Se eu não pude dizer antes, depois de tantos anos, aqui está: O meu obrigado!

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