quinta-feira, 9 de junho de 2016

Hipnotizado

Houve um tempo, quando eu era criança, entre os 11 ou 12 anos, nunca lembro direito, que eu ficava só em casa. Meu pai se ausentava por dias ou semanas fora, trabalhando em fazendas, e minha mãe trabalhava como produtora em um estúdio de fotografia. Minha irmã quase sempre a acompanhava e eu, bem, eu costumava ficar sozinho.

Não havia problemas nisso, eu sempre me distraía fazendo meus stop motions com meus brinquedos, jogando no gameboy, no computador jogando The Sims, criando arte do Power Point, estudando ou tomando banho na piscina. Mas um dia comecei, por algum motivo que eu nunca soube, a entrar em pânico por ficar só. Na verdade, se me lembro bem, eu ficava sozinho e com o passar das horas eu ia me apavorando.

As vezes sentia que tinha algo em casa, ouvia barulhos, ficava desnorteado e, como a casa era grande demais e o quintal também, eu ia para o ponto mais distante dela, as vezes, até pra fora, esperar na calçada alguém chegar.

O ápice foi quando fui até a vizinha dos fundos chorando, dizendo que estava preocupado com minha mãe, eu achava que ela ia morrer, algo assim. A vizinha, que foi a merendeira da única escola municipal da cidade por anos, me serviu um suco de abacaxi, disso nunca me esqueço. Depois fomos, de moto, procurar minha mãe pela cidade. Ela estava bem, na casa de uma amiga, do outro lado da cidade.

Com isso, acredito eu, meus pais decidiram me levar para um psicólogo, não tenho certeza. Só sei que o Dr Leonides era marido da minha professora de ciências, a Gema. Das sessões eu lembro pouco, de duas, apenas, não sei se tive mais.

Uma dessas lembranças foi a noite, o Dr Leonides recebeu meus pais e eu para uma conversa, da qual não lembro nada (eu seria um péssimo escritor da minha própria história). A outra lembrança, uma consulta, foi pela manhã. Lembro de ir ao consultório dele, uma dessas casas de madeira comuns de interior.

Estando lá, ele me pediu para deitar em uma maca e, após isso, para eu me imaginar em uma paisagem que ilustrava a parede da sua sala. Estava escuro e não lembro mais nada, apenas de sair de lá e comer amoras em uma arvores próxima do consultório e voltei pra casa a pé, já que se tratava de uma cidade minúsucula.

Essas são as manchas que tenho dessa história na memória. E adivinhem só? Nunca mais tive um ataque de pânico sequer. O mais engraçado de tudo é que eu tenho sérias suspeitas de que isso me afetou pela vida toda, e afeta até hoje, me fazendo forte e corajoso em situações que, normalmente, as pessoas teriam medo ou receio.

Hoje eu não tenho medo de estar só, não tenho medo de frequentar lugares perigosos, não me traumatizei com três assaltos pelos quais passei. Enfim, diversas coisas que poderiam me amedrontar, não amedrontam, eu consigo enfrentar grande parte dos meu desafios e medos com eficácia.

Eu tenho quase certeza de que ele me hipnotizou, mas eu nunca havia para para pensar a respeito. Só recentemente estivesse pensando sobre este acontecido e decidi escrever. Eu considero um fato importante em minha vida, acho que me mudou de algum modo para sempre, e isso tem me ajudado até hoje, talvez.



Um dia agradecerei o Dr Leonides pessoalmente. Espero ter essa oportunidade.

Carpe Diem

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