segunda-feira, 6 de julho de 2020

Nada nunca foi como antes...

...E se parece ser, tem algo errado!

Desde de que eu me entendo por gente, durante as diferentes fases da minha vida e os poucos percalços que tive, por crescer com privilégios, percebia mesmo assim que nada era constante. Sempre havia algo à espreita que parecia trazer algum tipo de sofrimento, problema ou dificuldade pra mim e todos a minha volta.

Meus primeiros anos de vida, dos quais não tenho grandes recordações e sei mais por histórias e fotografias, foram em um sítio, e parece que nesta época, apesar de eu ver fotos de uma vida tranquila, meus pais sofreram um bocado, principalmente minha mãe.

Prefiro entrar em detalhes depois disso, entre os 4 e 10 anos de idade, quando morei em casas simples no interior do Estado de Mato Grosso. No começo, para se ter ideia, nem energia 24 horas havia na cidade onde morávamos. Mas este não era o problema.

O problema era que, já desde pequeno, precisava eu enfrentar os preconceitos cravados na sociedade que existem, claro, muito antes de mim. Era meu pai com seu discurso de que com homem tudo era resolvido de forma diferente do que com mulher: tinha que ser mais bruto, tinha que trabalhar mais, não podia ser sensível, dentre outras coisas.

Além de ter infância dentro de casa guiada desta forma, o que também fez com que eu me tornasse machista quando dizia respeito a alguns assuntos os quais trabalho até hoje, também sofria com pequenas desavenças na escola, com os garotos mais rústicos e, claro, possivelmente héteros.

Passei por isso, sem apanhar ou ser julgado em público por ser afeminado e diferente, mas sofria frequentemente com acontecimentos pontuais que me faziam sofrer dentro ou fora de casa. Isso sem dizer o que eu via pela TV, ou mais tarde pela internet, o que acontecia pelo mundo com pessoas como eu.

Só então depois dos meus 16, começaram a surgir pessoas a minha volta que tornavam tudo um pouco mais fácil. Eram pessoas que, por dentro, se pareciam muito comigo. Isso foi no final do colegial e início da vida acadêmica e foi muito importante que pessoas assim aparecessem.

Ter ao meu lado, durante minha transformação de um adolescente à um jovem adulto, pessoas parecidas comigo nas suas ínfimas particularidades fez toda a diferença. Se eu evoluí o mínimo que evoluí, foi por ter este tipo de gente comigo. 

Mas essa fase não foi mais fácil só por ter pessoas que me ajudaram na descoberto mais ampla do meu eu. Ainda assim precisei conciliar vida afetiva, profissional e acadêmica durante 5 ou 6 anos para provar ao mundo que eu poderia ser um bom escravo.

Havia objetivos, metas, trabalhos e exigências por todos os lados, mas grande parte dos frutos deste meu esforço eram recolhidos por outros. E não quero parecer ingrato, mas o trabalhador que conhece o seu trabalho, sabe o quanto ele vale, e durante quasse toda minha vida senti que nunca fui reconhecido ou pago o suficiente pelo que eu sabia fazer.

Foi nesta fase que comecei aquela coisa do "ficar mais no trabalho do que em casa", lembrando que eu ainda precisava estudar para me formar e satisfazer meu prazeres pessoais, que ficavam em último lugar, seja pelo cansaço ou por eu não conseguir dar mais atenção a isso.

Então, vencida a corrida pelo diploma e aprovação profissional (dos trabalhos feitos enquanto eu tentava conquistar o canudo), veio a maior mudança de todas, a qual dura até hoje: sair do teto da casa da mãe e enfrentar o mundo quase que 100% sozinho.

A mudança ocorreu de todas formas possíveis, mudando de casa, e cidade, de rotina, tudo mesmo. E desde então, nestes quase 8 anos vivendo dessa forma, muitos dos desafios continuaram parecidos, mas com um plus de que surgiram inúmeros outros para lidar.

Contas, saber dividir espaços físicos e mentais com pessoas que você não conhece, mas precisa, para poder dar conta das mais contas que iam surgindo, mais desafios no trabalho, desafios em transporte, saúde, alimentação... coisas de quem quer ser livre, seja lá o que isso quer dizer.

É difícil explicar, mas quem passa pelo que eu passei sabe do que estou dizendo, e também vão concordar comigo, caso tenham onde morar e sempre o que comer, que ainda tivemos sorte. Eu em especial, nunca fiquei mais de dois meses sem emprego nesta última década. E, para quem vive nessa era capitalista, isso é lindo.

Além de não ficar sem emprego, também nunca fui demitido por não fazer um trabalho de forma correta. Ao menos, as únicas duas demissões pelas quais passei (e fui chamado de volta em ambas vezes) foram por corte nos gastos - claro.

Pois bem, todos estes parágrafos podem ser resumidos aqui, mas foram importantes para que eu escrevesse passageiramente, no seguinte: NENHUM ano foi como outro em nenhum quesito. Eu dificilmente consegui completar dois anos trabalhando da mesma forma pra mesma empresa, ou amando as mesmas pessoas, ou morando com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares.

Sempre havia algo, e nunca nada era como antes.

E pode ser que pra pessoas outras seja diferente. Algo como ter o mesmo emprego por cinco anos, o mesmo amor, os mesmos amigos, o mesmo teto, as mesmas conversas, o mesmo caminho, as mesmas viagens, roteiros, reclamações, rotina, mas... Se for assim, vê como parece ser tão errado?

Não que o meu estilo de vida seja o correto ou que eu fui dos mais felizes com ele, mas, agora que tudo no mundo inteiro parece dizer "nada será como antes"... Será que deveria ser? Será que tudo tem que ser como antes? Sejam coisas boas ou ruins, elas foram antes e, agora, precisam ser outras.

Claro, no fim, ou no meio, o que realmente importa é se você está feliz (feliz, eu acredito, é pensar que está tudo bem agora e nada pode atrapalhar isso), então se alguém segue o mesmo papel por anos a fio se sentindo assim, quem sou eu pra dizer que tem algo errado.

Mas aqui, agora, neste espaço fictício que escrevo para que qualquer pessoa no mundo - com exceção de cidadãos de países com restrição a internet - enquanto estou sentado, eu acredito que é possível que tudo fique bem se nada for como antes.

Vamos nos livrar de "tudo ser como antes", mas que isso faça as outras pessoas se sentirem bem!

Acho que é basicamente isso.

Carpe Diem

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