sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Páreo

E quando a realidade bate à minha porta, não tem como fugir. Na verdade, ela sempre bate. A porta é de vidro e totalmente translúcida, então eu a vejo bem e só ignoro, mas ela ronda e não dá pra escapar. A realidade da qual eu meu refiro, dentre as existentes em diversas fases da vida, por incrível que pareça, é a de desencaixe social. Não me sinto páreo para nada. 

Não sou páreo para a beleza imposta, não sou atraente o suficiente. E não sou inteligente o suficiente, não sou esperto o suficiente, não sou adequado o suficiente, não sou nem burro o suficiente, nem feio o suficiente, não sofro o suficiente, não tenho dinheiro o suficiente, não me destaco o suficiente, nem me escondo o suficiente, não amo o suficiente, nem sou cretino o suficiente, não sou feliz nem infeliz o suficiente. Embora não há conformismo, e eu agradeça,  há tristeza.

Eu começo por ignorar a relação de padrão que existe, em todos os sentidos. Embora não me deixe deprimido, me faz enxergar como não sou competitivo, pra variar, o suficiente. O mal estar causado em mim, graças a chance que eu tenho todas as manhãs, é pelos dias em que fica claro que a ansiedade me machuca. O fato de eu não dar a mínima em ser bom ou ruim o suficiente, mas mesmo assim, me sentir deixado de lado pelo mundo, é constante.

Todos os dias, sem exceção, eu penso que seria feliz com o mínimo possível, mas o mínimo está inalcançável. A mediocridade toma conta dos meus dias e eu me recuso a deixar, por vício, o que a sociedade me impôs. Mais, cada vez mais de tudo. Sobreviver do que eu poderia cultivar, ser feliz ao lado de alguém durante os dias da minha vida, apreciar o por do sol e um céu estrelado, sem precisar me conectar com um mundo surreal. Tudo isso, ou só isso, deveria ser o suficiente.

Eu não faço nada de espetacular, não tenho nada a oferecer, a não ser sentimentos. Não posso estar disponível a qualquer momento, não posso sair e fazer o que simplesmente me der na telha. Não posso me dar ao luxo de viver exclusivamente para o que eu amo e não posso nem viver para quem eu amo. Mas, mesmo assim, a esperança de viver pelo que sonho reside, através do simples fato de que não me custa.

De qualquer modo, ainda sobrevivo por pura ansiedade. O que eu tenho a dizer sobre isso é: eu realmente não me importo por não ser nada o suficiente, nem páreo para nada, mas sim, eu me importo por não conseguir coisas tão fáceis que estão ao alcance de tantas pessoas. Eu juro que não tem nada haver com dinheiro, poder ou glória. Eu estou falando de realizar sonhos, de não sentir que seus dias 'vão em vão' e, principalmente, do motivo pelo qual eu vivo e tento ser alguém melhor: encontrar e viver ao lado do amor da minha vida, e eu não vejo mais outros motivos pelo qual viver.

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